semana da mulhersemana da mulherA mulher no mundo vem lutando para que os seus direitos sejam respeitados e aqui em Moçambique sem excepção, as mulheres enfrentam as mesmas lutas. Esta, é uma luta constante e diária das mulheres moçambicanas que são mais do que a metade da população, perfazendo cerca de 60% da população em Moçambique. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano lançado pela PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em 2016), o mesmo mostra que apesar de Moçambique estar a enveredar esforços para combater as desigualdades, as mesmas acometem mais as mulheres e raparigas moçambicanas.

Foi neste contexto que a Embaixada do Canadá em parceria com a Embaixada da França em Moçambique promoveu no dia 7 de Março do corrente ano, no Centro Franco-Moçambicano em Maputo, uma mesa-redonda com o tema “Igualdade do Género em Moçambique: Os Homens Apoiam ou Não.” Este encontro juntou a sociedade civil moçambicana, activistas sociais, jovens, estudantes, académicos e parceiros de cooperação para juntos debaterem esta problemática e procurar possíveis soluções, uma vez que de forma contínua são as mulheres que se ressentem das desigualdades no mundo.
Sob o tema em debate, os oradores presentes apresentaram os seus pontos de vista e possíveis soluções tentando encontrar um meio termo que não choque com as questões culturais.

A Embaixada de Canadá e Embaixada da França ao promoverem esta mesa redonda esperavam assim, que de forma conjunta a sociedade civil, jovens, académicos e adolescentes encontrassem soluções para descortinar e desconstruir as desigualdades existentes entre os homens e mulheres.

Foi nesta senda que o Embaixador da França Bruno de Klé e a Embaixadora do Canadá em Moçambique Caroline Deline secundaram na sua intervenção que a igualdade entre homem e mulher devia ser equilibrada e preservada em todo o mundo e que a relação entre as partes devia ser de igualdade e as limitações impostas as mulheres deviam também ser impostas aos homens. Afirmaram ainda que para que tal acontecesse havia necessidade que todos os intervenientes e envolvidos nesta luta mostrassem um cometimento com a causa.

 

MUDANDO HOMENS E DESAFIOS

Para Júlio Langa, Pesquisador e Co-Fundador da HOPEM, actualmente a exercer o cargo de Director Executivo da mesma Organização, a identidade masculina é dinâmica. Foi assim como começou a intervenção do homem que defende as masculinidades na sociedade moçambicana.
O painelista que trabalha na área de inserção dos homens referiu que muitos homens quando questionados ou discute-se o papel dos homens nas questões de género eles sentem-se acuados e inseguros, pensando que agindo de tal forma lhes será tirado o papel de homem na sociedade.

“Os espaços urbanos e no campo o ser homem é diferente, independentemente de ser ou não heterossexual ou homossexual, um homem é e sempre será homem. Sentimos que aqui em Moçambique, a igualdade de género não existe e é preciso criar condições para que se possa aprender sobre a igualdade, e que o mesmo não implica que os homens irão perder aquilo que é seu por direito,” - Disse Langa.


Por sua vez, Albachir Macassar, Director Nacional dos Direitos Humanos e Cidadania, na sua intervenção falou que a questão do género passa pelo entendimento em primeiro lugar dos direitos humanos, uma vez que se pretende que haja equilíbrio na família, aonde já desde o nascimento tanto os rapazes como as raparigas são delegadas afazeres desde pequenos, por isso nas famílias moçambicanas as raparigas devem fazer uma coisa e os rapazes devem fazer outra.

O orador sugere que a família é como se fosse o núcleo principal de formação em Moçambique e tem que ser a primeira a ensinar que todos os filhos independentemente do sexo são iguais desde pequenos e que tanto um como o outro pode fazer o trabalho do outro sem excepção.
“Na nossa cultura as tradições diferenciam os rapazes das raparigas, pois os tratam de forma diferenciada e isto é mau. Temos que nos desafiar a nós mesmos sobre tudo e incentivar a nós mesmos para que possamos mudar o nosso pensar,” Rebateu Macassar.
Sérgio Chuzane da H2N, começou a sua explanação falando da educação. Referiu que a educação funciona como uma arma fundamental para vencer os preconceitos que se prendem a desigualdade do género que existe no país.

“Há necessidade de educar os homens para enfrentar o desafio. Os Mídias podem contribuir para que a igualdade do género se efectue na nossa sociedade, pois deve ter o objectivo não só de informar como também de educar,” – rebateu Chuzane.
Chuzane aponta os Mídias como agentes da mudança deste cenário, aonde devem educar as pessoas que vão informar e fazer com que elas tragam consigo valores que possam repassar.

Por sua vez, Farouk Simango da Coalizão da Juventude Moçambicana referiu que a igualdade de género devia ser um foco de principal debate na nossa sociedade, pois sabe-se que na família aonde há uma construção de valores e ideias não existe história de menina e menino.
E foi assim que os oradores chegaram a conclusão de que havia uma necessidade de desconstruir a ideia de que deve existir dominação entre o homem e mulher.


COMO FAZER PARA QUE HAJA DESIGUALIDADE DE GÉNERO?

Um dos participantes partilhou a sua opinião e disse que um homem na verdade não é um líder sem que uma mulher esteja ao seu lado. Referiu ainda que há urgência para que a sociedade entenda o que é isto de igualdade de género na vertente social, pois tem que se falar de igualdade em pé de igualdade.
Por outro lado, a psicóloga Cândida Muvale também referiu que as mulheres podem ser machistas, e que há uma necessidade de se reeducar as pessoas de forma positiva. Acrescentou ainda que os moçambicanos precisam entender que só aceitando que as mulheres podem ter os mesmos direitos que o homem é que poderá aceitar que haja igualdade de género.

“É preciso aceitar que as coisas já estão a mudar um pouco em Moçambique. Existem leis que já protegem a mulher sobre muitas coisas. A mulher não é objecto de estimação e nem é para ser usada para decorar o interior de uma casa,” - frisou a Psicóloga.
Os participantes do debate mostraram que tinham conhecimento sobre o tema em debate e houve várias intervenções positivas e os mesmos sugeriram que os organizadores da mesa redonda realizassem mais palestras, debates, encontros ou seminários com temas relacionados ao género tais como: i) Divulgação dos Direitos das Mulheres ii ) Uma Educação Positiva iii) Desconstrução de ideias de que as mulheres podem aquilo, mas aquilo não podem.

E por último, os participantes mostraram-se satisfeitos com os temas discutidos no debate e afirmaram que somente juntando forças é que se poderiam ultrapassar estas desigualdades e para que isso se concretize há uma necessidade de divulgação, educação nas comunidades, desmistificação dessas teorias que envolvem as diferenças desde a nascença, de que uma menina pode isto ou isto não. Necessidade de reeducar a sociedade no geral sobre as construções sociais.

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